domingo, 30 de setembro de 2018

Veste Minha Pele e Tenta Ser Eu 

   Viado, bichinha, fala como homem seu moleque, boneca é coisa de menina, olha aqui se você não ajeitar  esse andar eu vou te encher de porrada, você não pode brincar só com menina, só com coisas de meninas, menino brinca com menino, com coisas de macho, você entendeu, ou quer que eu abra sua cabeça? Eu já cansei de repetir, isso não, não, não é normal! Você tem que se ajeitar José, somos sua família e só queremos seu bem, você sabe disso não é filho? Por isso a mamãe trouxe o padre aqui para rezar por você, ele vai nos ajudar a curar você, você vai se tratar e tudo vai ficar bem, tudo vai voltar ao normal, como era antes. Olha aqui você é gay da porta da casa pra fora, é isso mesmo, somos nós quem sustentamos a casa, somos nós tem sustentamos você, e você só tem que aceitar e obedecer, você vai terminar o namoro com esse tal de Fernando, não tente mentir, poque já sabemos de tudo, que absurdo José, se você não obedecer arrume outro teto pra ficar, porque gay aqui eu não vou aceitar. Veste minha pele e tenta ser eu pra você vê o que vai aguentar...  
  Ensino médio, época de juventude escolar, é também o período em que o gay mais sofre pelas mãos da discriminação da escola,  escondida e oprimida, bem ali na frente dos olhos de quem está a reparar, a injustiça sendo destilada por aqueles que deveriam orientar, e cuidar, acabam aumentando os índices de  suicídio, sem nenhum dó e remorso demostrar, são os monstros da sociedade, vendo a humanidade afundar...
- Professora estão me batendo, por favor, faça eles parar. 
- Olha aqui menino, não percebe que está fazendo minha aula parar? Vou te encaminhar para a direção, é lá que você tem que ficar, onde já viu, esses gays não tem noção mesmo, querendo mandar e mandar na escola, pensa que tem direito a alguma coisa, aqui você não tem voz, nem lugar.
Veste minha pele e tenta ser eu, e  tenta ficar calado com toda a iniquidade que você verá. 
  Está totalmente enganado quem pensa que uma família não podemos formar, estudamos, somos batalhadores, vamos matando um leão por dia, até conseguir na nossa meta chegar, somos capazes sim, de adotar, cuidar, educar, e fazer de uma criança uma pessoa do bem quando adulto ela chegar, dando muito amor e carinho, diferente daqueles que os abandona quando os velos chegar, jogando em bueiros e encostas dos rios, até mesmo em linhas de trem, para que os inocentes sejam mortos, aniquilados, meu peito sangra só de imaginar, veste minha pele e tenta ser eu pra você ver o tando de amor que somos capaz de dar.  
  É  do levantar de manhã, ao voltar do trabalho, quando tem trabalho,  que o gay tem que lutar, por que infelizmente ainda nos dias de hoje tem muita coisa a se mudar, muitas metas avançar, somos gente, somos humanos, exatamente assim como você, mesmo você sem concordar, temos os mesmos direitos sim, e vamos todos eles conquistar, desistir não iremos, está pra nascer quem nos pare, quem nos faça voltar, para aquele armário de dor, que a sociedade nos fazia ficar, sangrando e definhando por dentro, com medo de tudo enfrentar, sem saber que no fundo era bem melhor eram as portas escancarar, liberdade e resistência é onde temos que ficar, retroceder jamais, continuar lutando já.  Veste minha pele e tenta ser eu, pra você ver até onde sua garra irá te levar.  
   Brasil registra 126 mortes de LGBTs no primeiro semestre de 2018. Em 2018, 153 pessoas LGBTs já foram mortas no Brasil vítimas de preconceito. O Brasil é o país que mais mata LGBTs no mundo: 1 a cada 19 Horas. ATÉ QUANDO?  E saber que tudo isso se resolveria se as pessoas tivesse um pouquinho de consciência, se o respeito fosse na prática ensinado e empregado, se realmente as pessoas agissem como humanos, afinal, somos os racionais? Se você, preconceituoso, deixasse o ódio e a raiva de lado, e começasse a agir diferente, entendendo que todos somos somos diferentes e somos tão iguais, somos humanos, e nada mais, se você vestisse minha pele e tentasse ser eu, com certeza teríamos uma  sociedade mudada, você e eu.
Autor: João Marcos
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sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Casinha (Ser)


     Olá querido amigo, sei que faz tempo que não te mando correspondências, de uns tempos pra cá as coisas mudaram muito, principalmente as pessoas,  se é que você me entende... (Risos) Bom, sei que me entende, você é uma das pouquíssimas que me conhece...  de verdade, deste de já eu te peço desculpas, por que ainda não perguntei como você está ,  nem o que aconteceu contigo durante todo esse tempo sem trocar as nossas cartas estupidas de todos os sentimentos que possa imaginar. Aconselho que leia quando estiver  com muito tempo livre, faça um café bem quente, e se aconchegue naquele sofá  feio que você tem jogado no fundo do seu quarto, como você sempre faz. vou te contar como estar cada comodo da casinha. 
   As janelas ainda estou mantendo conservadas, lixei, envernizei, pintei de branco, uma cor leve, que particularmente  gosto muito, aquele toque de leveza que me deixa em pleno estado de êxtase comigo mesmo,  por elas não passam mais nada de ruim, deixei pelo caminho tudo aquilo que não acrescentava em exatamente nada na minha vida, nem para meu bem estar, selecionei os amigos de verdade, a família, aqueles que me apoiam,  os que  sempre estão ao meu lado, fiz uma seleção dos programas de TV, as séries, os filmes que gosto, os que ainda quero ver, dos lugares que quero visitar, e por ai vai (Risos).  É  muito importante cuidar dos olhos, das nossas janelas da alma, não escancarar  para tudo que ver é importante, para que nenhum vento forte acabe desorganizando a casa e a alma. 
  Na sala eu espalhei quadros de felicidades espalhados por todos os lugares, eu mesmo pintei, não deixo mais que fure a parede para expor quadros de ódio, maldade, deslealdade, raiva, e sentimentos que certamente só me deixariam firme preso no fundo do poço, na mesinha da sala incensos de fé, e claro, na vitrola só toca músicas alegres e dançantes, contagiantes, que puxe lá do fundo as gargalhadas mais sinceras e bobas, mas que nos fazem um bem danado.
   Deixei preso no quartinho dos fundos, a intolerância, a falta de respeito com o próximo, o preconceito, a mentira, o desmotivamento, os pensamentos negativos, a crueldade, e todos os sentimentos ruins. Sorrateiramente sai e joguei a chave fora, agora a casa estava limpa, a alma descansada, o pensamento livre para a vivencia adequada, merecida, esperada, por um ser quase sem fala, agora ganhava vida. 
  Na cozinha agora só tem comidas saborosas e nutritivas, cultivadas pelo amor, dando sentido a vida, a nossa vivencia na caminhada longa,  agora adoçada com sabedoria, qualificando a jornada valida, que por muitos as vezes é esquecida e assim desperdiça seus dias. 
  Os quartos entupidos de positividade e sonhos que pretendo realizados, a casinha do meu ser finalmente está em ordem, tudo no seu devido lugar, como sempre deveria estar, é meio estranho quando tudo parece está indo bem, mas é isso amigo, apesar de tudo que aconteceu as feridas foram sanadas e saradas, então curado pude arrumar a casa e o coração.
   Quando se limitamos a uma situação inferior, que nos machuca a sangra nosso ser, acabamos deixando  ruir a nossa estrutura emocional e física, por isso querido amigo te escrevo para que você tome coragem de arrumar a sua bagunça interior, cultive boas amizades, bons sentimentos, bons sonhos, viva o hoje e agora, por que o amanhã é uma incerteza, então cuide da sua casinha, do seu ser, agora levante desse sofá feio, coloque um casaco, e volte a curtir a vida, saudades, e antes que se esqueça, me escreve de volta.  Abraço do João  
Autor: João Marcos