Veste Minha Pele e Tenta Ser Eu
Viado, bichinha, fala como homem seu moleque, boneca é coisa de menina, olha aqui se você não ajeitar esse andar eu vou te encher de porrada, você não pode brincar só com menina, só com coisas de meninas, menino brinca com menino, com coisas de macho, você entendeu, ou quer que eu abra sua cabeça? Eu já cansei de repetir, isso não, não, não é normal! Você tem que se ajeitar José, somos sua família e só queremos seu bem, você sabe disso não é filho? Por isso a mamãe trouxe o padre aqui para rezar por você, ele vai nos ajudar a curar você, você vai se tratar e tudo vai ficar bem, tudo vai voltar ao normal, como era antes. Olha aqui você é gay da porta da casa pra fora, é isso mesmo, somos nós quem sustentamos a casa, somos nós tem sustentamos você, e você só tem que aceitar e obedecer, você vai terminar o namoro com esse tal de Fernando, não tente mentir, poque já sabemos de tudo, que absurdo José, se você não obedecer arrume outro teto pra ficar, porque gay aqui eu não vou aceitar. Veste minha pele e tenta ser eu pra você vê o que vai aguentar...
Ensino médio, época de juventude escolar, é também o período em que o gay mais sofre pelas mãos da discriminação da escola, escondida e oprimida, bem ali na frente dos olhos de quem está a reparar, a injustiça sendo destilada por aqueles que deveriam orientar, e cuidar, acabam aumentando os índices de suicídio, sem nenhum dó e remorso demostrar, são os monstros da sociedade, vendo a humanidade afundar...
- Professora estão me batendo, por favor, faça eles parar.
- Olha aqui menino, não percebe que está fazendo minha aula parar? Vou te encaminhar para a direção, é lá que você tem que ficar, onde já viu, esses gays não tem noção mesmo, querendo mandar e mandar na escola, pensa que tem direito a alguma coisa, aqui você não tem voz, nem lugar.
Veste minha pele e tenta ser eu, e tenta ficar calado com toda a iniquidade que você verá.
Está totalmente enganado quem pensa que uma família não podemos formar, estudamos, somos batalhadores, vamos matando um leão por dia, até conseguir na nossa meta chegar, somos capazes sim, de adotar, cuidar, educar, e fazer de uma criança uma pessoa do bem quando adulto ela chegar, dando muito amor e carinho, diferente daqueles que os abandona quando os velos chegar, jogando em bueiros e encostas dos rios, até mesmo em linhas de trem, para que os inocentes sejam mortos, aniquilados, meu peito sangra só de imaginar, veste minha pele e tenta ser eu pra você ver o tando de amor que somos capaz de dar.
É do levantar de manhã, ao voltar do trabalho, quando tem trabalho, que o gay tem que lutar, por que infelizmente ainda nos dias de hoje tem muita coisa a se mudar, muitas metas avançar, somos gente, somos humanos, exatamente assim como você, mesmo você sem concordar, temos os mesmos direitos sim, e vamos todos eles conquistar, desistir não iremos, está pra nascer quem nos pare, quem nos faça voltar, para aquele armário de dor, que a sociedade nos fazia ficar, sangrando e definhando por dentro, com medo de tudo enfrentar, sem saber que no fundo era bem melhor eram as portas escancarar, liberdade e resistência é onde temos que ficar, retroceder jamais, continuar lutando já. Veste minha pele e tenta ser eu, pra você ver até onde sua garra irá te levar.
Brasil registra 126 mortes de LGBTs no primeiro semestre de 2018. Em 2018, 153 pessoas LGBTs já foram mortas no Brasil vítimas de preconceito. O Brasil é o país que mais mata LGBTs no mundo: 1 a cada 19 Horas. ATÉ QUANDO? E saber que tudo isso se resolveria se as pessoas tivesse um pouquinho de consciência, se o respeito fosse na prática ensinado e empregado, se realmente as pessoas agissem como humanos, afinal, somos os racionais? Se você, preconceituoso, deixasse o ódio e a raiva de lado, e começasse a agir diferente, entendendo que todos somos somos diferentes e somos tão iguais, somos humanos, e nada mais, se você vestisse minha pele e tentasse ser eu, com certeza teríamos uma sociedade mudada, você e eu.
Autor: João Marcos